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TOMAR – Transtornos vão continuar. Na melhor das hipóteses, utentes da Venda Nova só voltam a ter médico de família… depois do Verão
Na melhor das hipóteses, a extensão de saúde da Venda Nova, em Casais e Alviobeira, só voltará a ter médico de família no final do Verão. Foi esta a expetativa transmitida a João Luís Alves, presidente daquela freguesia, que esteve reunido com a direção-executiva do Agrupamento de Centros de Saúde do Médio Tejo. Com efeito, a população daquele território do concelho de Tomar tem sido confrontada com imensos transtornos no acesso aos cuidados de saúde primários, precisamente desde a saída da médica que estava na Venda Nova, que está de baixa prolongada. Tal como a Hertz questionou o ACES em tempo útil, essa profissional está ausente «por razões legalmente justificadas». O Agrupamento disse, ainda que os utentes podem recorrer à consulta de recurso que funciona na sede da UCSP de Tomar (edifício da Nabância), à segunda-feira de manhã e à quinta-feira à tarde. Em declarações à Hertz, João Luís Alves fez, então, um ponto de situação:
João Luís Alves deu, ainda, conta de uma experiência-piloto que deverá concretizar-se após a chegada do médico à Venda Nova, experiência essa que passará por canalizar os utentes daquele posto e ainda de Casais para a extensão de Alviobeira, que é a única estrutura do Estado naquela freguesia:
Lançado para alertar para as dificuldades no acesso a cuidados de saúde primários numa freguesia em que a população é maioritariamente idosa o abaixo-assinado e a petição pública exigem a colocação de um médico.
Mais de 350 pessoas subscreveram uma petição pública online e um abaixo-assinado a reclamar junto da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) a atribuição de um médico assistente aos utentes da freguesia de Mouriscas, no concelho de Abrantes, cuja “maioria tem idade avançada, recursos financeiros escassos” e dificuldade de deslocação.
“Como temos consciência que não há médicos de família disponíveis optamos por um médico assistente uma vez que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) dispõe desses médicos que têm uma função que em muito ajudaria a população de Mouriscas”, explica a O MIRANTE a eleita na Assembleia de Freguesia de Mouriscas, Helena Lopes (CDU). Recentemente, recorde-se, o médico internista e cardiologista reformado do SNS, José Correia, ofereceu-se para dar consultas gratuitas em Mouriscas, mas a oferta esbarrou em burocracias e trâmites legais que seria preciso cumprir e que até ao momento não avançaram.
Os documentos, postos a circular por iniciativa da CDU, exigem ainda aos órgãos autárquicos do concelho e da freguesia que “no cumprimento da defesa da população denunciem e exijam junto do Governo a resolução imediata” do problema da falta de médicos de família em Mouriscas. O abaixo-assinado que até 26 de Maio contava com 200 assinaturas será entregue em sessão da assembleia de freguesia e da Assembleia Municipal de Abrantes.
A extensão de saúde de Mouriscas funciona apenas com uma enfermeira e uma administrativa, desde que, no final do ano passado, perdeu a única médica de família. Para colmatar a falta de médicos de família está em cima da mesa, segundo a vereadora com o pelouro da Saúde, Raquel Olhicas (PS), avançar-se com o projecto Bata Branca, modelo que visa contribuir para melhorias no acesso da população sem médico de família a cuidados de saúde primários através de protocolos entre Misericórdias/IPSS, ARS e câmaras municipais. Em simultâneo, o concelho aguarda pelo término do concurso para contratação de médicos das áreas de Medicina Geral e Familiar e de Saúde Pública, lançado pela ARSLVT e no qual foram abertas oito vagas para Abrantes.
Médicos que escolhem Médio Tejo destacam companheirismo e autonomia
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O Centro Hospitalar do Médio Tejo tem conseguido fixar jovens médicos que privilegiam o bom ambiente de trabalho e uma liderança que ouve e promove a autonomia e a flexibilidade.
Uma equipa em que prevaleça o companheirismo e o “bom ambiente”, uma liderança que ouve e promove a autonomia e a flexibilidade são factores determinantes para a fixação de médicos no Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT). No departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do CHMT, que apresenta o menor tempo de espera para primeira consulta a nível nacional, uma média de 35 dias, o maior défice de recursos humanos está no pessoal não médico, embora, como sublinha a directora do serviço, Luísa Delgado, mais especialistas seriam bem-vindos para permitir alargar a todos os concelhos do Médio Tejo a equipa comunitária que tem vindo a intervir em Ourém. No departamento, situado na unidade de Tomar e que conta com 13 psiquiatras, uma pedopsiquiatra, 23 enfermeiros, cinco psicólogos, um deles afecto à pedopsiquiatria e outro à equipa comunitária, uma terapeuta vocacional e duas ocupacionais (uma na equipa comunitária), duas assistentes sociais (uma a tempo parcial) e assistentes técnicos e administrativos, dois dos oito médicos que fizeram o internato “já escolheram ficar”, salientou. “Este serviço tem um bom ambiente. Há companheirismo, há muita flexibilidade, sentimos que somos ouvidos e que podemos ter algum papel no que queremos fazer. As nossas questões são ouvidas e são atendidas. Os colegas estão sempre disponíveis (…) e eu privilegio muito esse tipo de entreajuda e de companheirismo, porque o nosso trabalho é muito feito em equipa e isso sente-se aqui”, disse à Lusa uma das internas que escolheu ficar no serviço, situado numa região onde muitas vezes é difícil fixar profissionais de saúde. Quando se candidatou à especialidade, Rafaela Farinha, que se formou na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, não conhecia o CHMT, mas o facto de ter raízes familiares na região levou-a a “arriscar”. Findos os cinco anos de internato, decidiu ficar, relevando a liberdade que lhe foi dada de fazer parte da equipa de ligação que dá apoio a doentes internados noutras enfermarias e que possam ter queixas relacionadas com a psiquiatria. “Ou seja, quando temos algum tipo de projectos e propomos, eles são bem aceites e há disponibilidade”, realçou a jovem médica. Rita Carvalho escolheu o CHMT por ter sido o local mais próximo de Coimbra, onde vive e onde fez a licenciatura, com vaga para psiquiatria, depois de ter feito o internato em Lisboa. “O serviço de psiquiatria [do CHMT] foi uma boa surpresa. Gosto muito de trabalhar aqui”, disse à Lusa. A jovem psiquiatra destacou a postura da chefia, que respeita os gostos e as preferências, promovendo a autonomia e a liberdade de diferenciação nas áreas de maior interesse de cada um, e, sobretudo, “o grande espírito de entreajuda na equipa”. Patrícia Jorge, que também se desloca de Coimbra para trabalhar no CHMT, acrescentou outro atractivo: a “vantagem” de poder ter um horário que condensa as 40 horas em quatro dias da semana, o que reduz o número de deslocações. Também ela valoriza o “grande espírito de entreajuda”, a equipa “muito boa, muito jovem, muito dinâmica”, onde se sente “muito bem tratada” e “muito bem acolhida”. Também Luísa Delgado, que, com a enfermeira Graça Cunha, abriu o serviço em 2002, findo o internato em Lisboa, confessou que a “coesão da equipa” e o espírito de colaboração que sempre encontrou foram determinantes para que, apesar dos vários convites, tenha preferido ficar. Destaca ainda “a sorte” de reunir um conjunto de pessoas que trazem “o ‘background’ dos vários sítios onde fizeram a sua formação” e “um ambiente de trabalho harmonioso”, com “cumplicidade” e “muita união” em torno do projecto. “Acho que sou pouco directora. Somos todos directores (…). Pensamos todos muito com uma cabeça só, em vez de ser uma pessoa a ditar ordens. Acho que isso faz toda a diferença. De facto, é muita sorte”, acrescentou.
Ginecologia e Obstetrícia é a área com mais carência de médicos
O presidente do Conselho de Administração do CHMT, Casimiro Ramos, atribui a capacidade de “cativar e reter profissionais” a “um trabalho muito grande” das direcções de serviço na forma como estruturam e organizam os serviços, nos equipamentos que colocam à disposição, nas oportunidades que dão de diferenciação, do acompanhamento, da integração e da estabilidade da equipa. “Isso associado a uma estratégia de futuro” e ao trabalho com as autarquias, nomeadamente em termos da atractividade da região, no sentido de garantir aos profissionais estabilidade social, familiar e no trabalho. Casimiro Ramos destacou, ainda, a importância da inovação, a aquisição de novos equipamentos e melhores instalações. Como exemplo apontou investimentos em curso no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, para o qual está projectada uma requalificação das instalações e a construção de um bloco, de 800 metros quadrados, num investimento de 1 milhão de euros, para a pedopsiquiatria, com previsão de entrada em funcionamento no início de 2024. Segundo o presidente do CHMT, actualmente, a “área mais sensível e mais visível” em carência de recursos humanos é a Ginecologia/Obstetrícia, situação onde espera, em breve, “uma melhoria significativa”, graças a “uma maior normalidade” na contratação de prestadores de serviços, na sequência da lei aprovada em Fevereiro e ao preenchimento das vagas colocadas a concurso. O CHMT tem 43 vagas a concurso para várias especialidades, além das 12 vagas para zonas geográficas qualificadas como carenciadas.
APROVADO PLANO DE ATIVIDADES E ORÇAMENTO DO CENTRO HOSPITALAR DO MÉDIO TEJO
O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) viu o seu Plano de Atividades e Orçamento (PAO) aprovado pelos Ministério da Saúde e das Finanças.
A aprovação deste documento vem possibilitar a realização de um conjunto de concretizações em linha com os eixos estratégicos da Instituição.
Para Casimiro Ramos, presidente do Conselho de Administração do CHMT, “a aprovação do PAO, uma das primeiras a ocorrer no universo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no ano em curso, vem possibilitar a realização de um conjunto de investimentos e a concretização de um conjunto de decisões que são de grande relevância para que a Instituição cumpra melhor a sua missão”.
O documento agora aprovado “alinha a gestão económica e financeira do CHMT, alavancada por instrumentos financeiros como o Plano de Recuperação e Resiliência, mas também com o orçamento global da área da saúde, com as grande prioridades do SNS, entre as quais a promoção da saúde e a recuperação da atividade ao nível hospitalar”, salienta Casimiro Ramos.
O PAO é elaborado numa ótica temporal de três anos – neste caso entre 2023 e 2025 –, no que diz respeito aos principais projetos de prestação de cuidados de saúde e de investimento financeiro. Assim, são elencados um conjunto de prioridades assistenciais, com enfoque particular nos recursos humanos, bem como um conjunto de investimentos estruturantes em infraestruturas e equipamentos que serão determinantes para a afirmação e melhoria dos indicadores de saúde do Médio Tejo.
O PAO do CHMT tem prevista uma aposta na diferenciação do Centro Hospitalar, visando o aumento da sua capacidade de atração e fixação de profissionais. A área da Saúde Mental é um dos exemplos do investimento ao nível infraestrutural, com a construção de uma instalação específica para a especialidade de Pedopsiquiatria, com apoio das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, orçado em cerca de 850 mil euros.
Destaca-se, também, ao nível da tecnologia de ponta, a construção de um laboratório de Segurança “Nível III” no Serviço de Patologia Clínica. Este laboratório dotará o CHMT de condições ímpares para enfrentar uma futura ameaça pandémica global.
Outra das grandes apostas do CHMT, decorrentes da evolução demográfica da população servida e da realidade do próprio país, é o aumento da capacidade de internamento na especialidade de Ortogeriatria e no âmbito dos Cuidados Paliativos. A resposta nestas duas valências visa possibilitar ao CHMT o reforço da capacidade de resposta em áreas em que é expectável um aumento da procura por parte da comunidade.
No que concerne ao desígnio nacional do combate à obesidade, está inscrita também o aumento da capacidade cirúrgica bariátrica. Há ainda importantes aquisições de equipamentos previstos na área da Imagiologia, da Gastrenterologia e Oftalmologia. Importa também destacar o reforço da Hospitalização Domiciliária e a perspetiva de criação de Centros de Responsabilidade Integrados.
“A aposta na modernização de equipamentos e instalações e o aumento da diferenciação do CHMT são, resumidamente, o foco do CHMT para os próximos anos”, reforça o Presidente do Conselho de Administração do CHMT, Casimiro Ramos. “As particularidades muito próprias deste centro hospitalar tornam muito desafiante a gestão diária desta Instituição, mas a aprovação do PAO vem dotar a atuação do Conselho de Administração de maior autonomia e capacidade de decisão, o que é extremamente positivo”, conclui.
Vales para cirurgias mais rápidas são recusados por 80% dos utentes
Medida foi criada em 2004 para limpar listas de espera e garantir respostas em tempo adequado. O Estado convencionou acordos com hospitais privados e sociais, mas os resultados estão aquém do esperado. Ministério da Saúde está a trabalhar para melhorar o vale cirurgia e como este funciona.
Maria e Filipe, de 57 anos e 80, respetivamente, são utentes de um hospital central na cidade de Lisboa do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não se conhecem, mas em março ambos receberam uma carta do SIGIC (Siste- ma Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) com um vale-cirurgia, para poderem resolver o seu problema de saúde em unidades dos setores privado ou social. O objetivo deste vale é garantir aos utentes que não ficam em lista de espera mais do que o tempo adequado, na maioria dos casos 180 dias, mas ambos tiveram de recusar o vale. Não são os únicos. Só no ano passado, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) quase 80% dos vales emitidos foram recusados.
Os motivos de Maria e Felipe são também comuns às recusas de outros doentes: a distância a que ficavam as unidades onde poderiam ser intervencionados. E, embora ambos tenham patologias diferentes, as unidades indicadas eram praticamente as mesmas, no norte e centro do país. O Estado apoia o custo do transporte do doente, mas, na maioria dos casos, tal como Maria e Filipe, precisavam de ir acompanhados. "Não é só o tempo para a cirurgia, é preciso contar também com o tempo a que se leva a fazer os exames para a cirurgia e depois o controlo pós-cirurgia e isto representa muitas despesas", argumenta Filipe Sousa, que depois da recusa voltou a integrar uma lista de espera com 141 homens à sua frente. Maria voltou para uma lista com 570 mulheres à sua frente.
O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, reconhece que "como princípio e garante do acesso aos cuidados, o vale-cirurgia faz sentido, mas pode ser melhorado", embora, na sua opinião,"o ideal é que o doente seja tratado na unidade onde é acompanhado". O Ministério da Saúde respondeu ao DN que esta e outras medidas estão a ser equacionadas e avaliadas para se poder melhorar o sistema.
A verdade é que o vale-cirurgia, criado em 2004, é cada vez mais recusado pelos utentes e, quando é aceite e realizado, custa ao Estado muitos milhões de euros.
De acordo com os dados disponibilizados ao DN pela ACSS, entidade que gere o SIGIC, em 2022 foram emitidos 165 079 vales, mas só 21% dos utentes os aceitaram. Ou seja, cerca de 80% recusaram. Em 2021, foram emitidos menos vales (156 264), mas 23% foram aceites. Em 2020 e 2019 o número de vales foi muito superior e a percentagem de aceitação muito menor (ver gráficos).