A cobertura da capa do Expresso, de 28 de Dezembro de 2013, aparece travestida de vistosa mas, certamente muito cara, publicidade paga. Trata-se de propaganda a um grupo privado de clínicas que foram ganhando notoriedade e rendimento, ao longo dos últimos anos, no centro do país, por irem “tratando dos doentes sigic” que, generosamente, a oferta (grandiosa) pública de Coimbra ia garantindo mediante a geração de listas de espera (escusado será dizer que os profissionais são, na sua grande maioria, os mesmos). O fantástico desta capa não é a inusitada fórmula de publicidade a cuidados de saúde (cuja ousadia nem os grupos empresariais de grande dimensão se atreveriam a ter até pelo facto de procurarem manter algum pudor ético num setor tão sensível).
Na verdade, esta capa e esta fórmula propagandística do tipo “abertura da época de saldos na saúde” ilustra através de uma imagem, que vale por mil palavras, os resultados desastrosos da “política de saúde” deste governo, nos últimos dois anos.Os resultados estão à vista: mercantilização pura da saúde, oferta em estilo de promoções de supermercado das taxas moderadoras, as tais que cinicamente foram sendo apresentadas como muito razoáveis e que hoje servem para denegrir o acesso ao SNS e ridicularizar o seu sobrecusto.
Passados dois anos pouco sobra para além de uma “história” montada em cima da propaganda, dos jogos de sombras e de coreografia mediática fazendo crer que estaríamos a viver um momento histórico na reforma e na modernização do SNS. Já nem sobre o flop da sustentabilidade financeira os próprios ousam falar.
Chegados a 2014 com a prossecução da atual linha política teremos provavelmente ofertas de excursões a Fátima a quem recorrer aos novos hospitais das Misericórdias, cataratas a crédito, inovação terapêutica a prestações, transplantes em leasing e outro tipo de ofertas que farão do SNS uma triste e nostálgica caricatura.
Azar o nosso nos ter caído esta direita com “esta gente” desprovida de homens com ideologia, valores e inteligência como foi o exemplo de Albino Aroso. É quase ultrajante ver estes arrivistas mercantis evocaram o nome de alguém que, servindo num governo social-democrata, era provido de visão estratégica, inteligência e humanismo.
Carlos Silva